quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Diálogo entre Guilherme Kujawski e Umberto Eco

Ao falar sobre “midiamorfose”, Guilherme Kujawski suscita uma discussão sobre a constante transformação pela qual as narrativas jornalísticas vêm passando ao longo do tempo. A linearidade, por exemplo, foi o primeiro tabu a ser quebrado, seguido da passividade do leitor enquanto receptor de mensagens. Para Humberto Eco, no livro “Seis passeios pelos bosques da ficção”, os textos são como os bosques, onde o leitor opta por vários caminhos a serem seguidos, muitos deles, inclusive, podendo ser até desconhecidos pelo próprio autor. Na minha percepção, o diálogo entre os dois se dá no fato de ambos enfatizarem a participação do leitor no processo de construção da narrativa. Para Eco, o leitor tem o poder de escolha nas mãos, enquanto que, para Kujawski, ele, além disso, é capaz de acrescentar novos rumos para o texto em questão, aguçando, com isso, a reflexão sobre uma nova forma de organização do discurso: o cibertexto. Mas este é um assunto para o próximo tópico!

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Só o tempo dirá

Dias se passaram até que eu resolvi sentar-me para redigir este texto. Do que se trata nem eu mesmo sei; minha única certeza é a de que preciso externar algumas sensações recônditas que me atordoam, ou pelo menos tentar elucidá-las. Talvez tudo não passe de um mero devaneio. Idéias que se chocam, dúvidas que parecem estar longe de um esclarecimento. Estes são apenas alguns dos componentes desse meu pensamento fértil.
Recorro a Manoel de Barros, o poeta que se paisageia, ou será a paisagem que se manoeliza? É difícil chegar a um consenso sobre isso. Mas recorro ao poeta que escreve embasado na essência das coisas pelo fato de eu suspeitar que as respostas para as minhas indagações também residam no embrião delas mesmas.
O problema é que, antes de buscar por soluções, encarrego-me de expressar meus delírios em palavras, e esta é uma missão não menos árdua. Na verdade, não sei se isso realmente caracteriza um problema, mas o faço porque, enquanto ser social, necessito de interagir em um contexto. Para isso, valho-me do meu discurso. Há todo um universo sígnico pelo qual posso me expressar, mas, ainda assim, opto pela palavra escrita.
Se, para Manoel de Barros, o poema é o lugar onde a gente pode afirmar que o delírio é uma sensatez, estendo essa premissa a toda forma de expressão que o artista julgar mais apropriada à sua arte. Desse modo, garante-se maior liberdade àqueles que se identificam com um ou outro estilo. Se no final das contas chegarei a uma solução para minha dúvida inicial eu não sei. A única resposta a que pude chegar até agora é que todo esse desabafo representa, no mínimo, o prelúdio daquilo que estou à procura. Quem sabe, para minha surpresa, tudo não se restrinja a uma simples experiência estética? Isso só o tempo dirá...

B 213

Continuar assim já não dava mais. Tornou-se insuportável ver chegar o sono e não faze-lo emplacar. Até mesmo um simples peristaltismo estava cada vez mais dificultado pela ânsia de senti-lo na iminência de se inverter. Tudo parou. Ou melhor, tudo parecia ter tomado o caminho contrário àquele que habitualmente seguia. É preciso resolver essa situação, mas como? Eu? Não, acho que não sou capaz, pelo menos no momento. Mas não resta outra saída. Serei eu mesmo o pivô do desfecho desse tormento. Precisamos conversar. Sala B 213. Um calafrio passa a dominar as minhas sinapses. Para mim, já é uma grande vitória ter chegado até aqui. Ufa! Confesso que nem eu sei como fui capaz de tanto. Impossível, e não menos desconfortável, era fingir que não via todo o seu constrangimento em ter que me encarar. Não esqueço a imagem daqueles olhos apreensivos enquanto aguardavam que eu retomasse o meu discurso, interrompido por um soluço latente que insistiu em se manifestar. Sente-se. Não, você não quis. Caminhar de um canto ao outro era a sua maneira de se livrar de todo aquele labor, daqueles dez ou quinze minutos que, para você, transformaram-se em longas e exaustivas horas. Cada gota de suor que eu sentia escorrer pelas minhas costas levava consigo um fardo de reminiscências das quais eu jamais pensava ser possível me livrar. Desde o início eu sabia que aquelas confissões culminariam ou em algo desastroso para mim ou em algo próximo do sublime, embora o meu inconsciente pedisse apenas um final feliz e pronto! Bom, explicações à parte. Desculpas são dispensáveis. Quem errou? Ninguém. Fiquei aliviado por tudo ter acabado de uma maneira tranqüila, amistosa. Arrisquei até mesmo um sorriso na saída. Acho que fui, inclusive, correspondido por uma espécie de saudação que emanava do âmbito da sua alma. Isso, caro amigo, no momento me bastava. Obrigado! Obrigado, chefe, pelo aumento tão esperado que em melhor hora não poderia vir. Estou há dois anos nessa empresa ocupando o mesmo cargo e finalmente agora recebi um reconhecimento justo pelo meu trabalho.