Continuar assim já não dava mais. Tornou-se insuportável ver chegar o sono e não faze-lo emplacar. Até mesmo um simples peristaltismo estava cada vez mais dificultado pela ânsia de senti-lo na iminência de se inverter. Tudo parou. Ou melhor, tudo parecia ter tomado o caminho contrário àquele que habitualmente seguia. É preciso resolver essa situação, mas como? Eu? Não, acho que não sou capaz, pelo menos no momento. Mas não resta outra saída. Serei eu mesmo o pivô do desfecho desse tormento. Precisamos conversar. Sala B 213. Um calafrio passa a dominar as minhas sinapses. Para mim, já é uma grande vitória ter chegado até aqui. Ufa! Confesso que nem eu sei como fui capaz de tanto. Impossível, e não menos desconfortável, era fingir que não via todo o seu constrangimento em ter que me encarar. Não esqueço a imagem daqueles olhos apreensivos enquanto aguardavam que eu retomasse o meu discurso, interrompido por um soluço latente que insistiu em se manifestar. Sente-se. Não, você não quis. Caminhar de um canto ao outro era a sua maneira de se livrar de todo aquele labor, daqueles dez ou quinze minutos que, para você, transformaram-se em longas e exaustivas horas. Cada gota de suor que eu sentia escorrer pelas minhas costas levava consigo um fardo de reminiscências das quais eu jamais pensava ser possível me livrar. Desde o início eu sabia que aquelas confissões culminariam ou em algo desastroso para mim ou em algo próximo do sublime, embora o meu inconsciente pedisse apenas um final feliz e pronto! Bom, explicações à parte. Desculpas são dispensáveis. Quem errou? Ninguém. Fiquei aliviado por tudo ter acabado de uma maneira tranqüila, amistosa. Arrisquei até mesmo um sorriso na saída. Acho que fui, inclusive, correspondido por uma espécie de saudação que emanava do âmbito da sua alma. Isso, caro amigo, no momento me bastava. Obrigado! Obrigado, chefe, pelo aumento tão esperado que em melhor hora não poderia vir. Estou há dois anos nessa empresa ocupando o mesmo cargo e finalmente agora recebi um reconhecimento justo pelo meu trabalho.
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2 comentários:
Olá Gustavo.
Que bom que mais um blog vai ser adicionado aos meus favoritos do Blogger...
Gostei muito do texto, tanto pelo enunciado quanto pelo rumo que as coisas tomaram na enunciação.
Espero ter sempre coisas legais assim para ler por aqui.
Abração,
Rennan
U-A-U! Nem posso falar muito, senão deixo escapar na escolha das palavras algo que voc~e não quis revelar em metáforas tão bem escritas e carregadas de sentinemtno puro. Mas posso dizer que foi sincero. E bonito. Love you, baby!
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